sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

♥→ Eu de mim...



Eu de mim não me queria
minhas grandes inconstâncias
minhas tantas insolências 
meu saltitar cansativo 
e de mim quase abortei 
então de mim fui ficando 
fui gostando dessa mim 
acomodando-me as beiras 
e se eiras eu não tinha 
agora tenho 
eu de mim já muito quero 
pus-me à frente em minha fila 
mas porém sem holofote 
dessa luz eu não preciso 
tenho eu clarão de mim...














Beijos da Pétala

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

♥→ De MIM para MIM




Coloquei a caneta em riste na tentativa de por ordem aos pensamentos da casa mental e o papel engasgou na mais absoluta asfixia.
Decidi enfrentar o dragão do apocalipse e lutei com cada idéia e cada palavra como se elas fossem culpadas pelos problemas do mundo. Tive um surto de imaginação e disse a mim mesma que se alguma coisa seria capaz de trazê-lo de volta, seria aquela iniciativa. Sentia que a cabeça pesava e um sorriso hostil perpassava pelos lábios.
Tal qual um soro ao lado da cama, o pensamento começou a gotejar.
Cinco minutos depois, que para mim foram cinquenta anos, tive um apagão na memória e mergulhei junto com a casa num mar de silêncio. Procurei conversar com os fósseis de minhas dores e dúvidas, certa de que aquele futuro, eu anteciparia.
Os pensamentos mais ruins tentaram reagir, mas ficaram intimidados, como se alguém os tivesse surpreendido fazendo algo de errado.
Guerrilharam, revidaram, acovardaram e por fim, me venceram. Todavia, antes que eles se sentissem culpados pensei numa maneira de aliviá-los, com sorte conscientizá-los e, se isso fosse possível, inocentá-los. A verdade é que eu havia me entregado, e, na dúvida, decidi perdoá-los. Não consegui dormir até que a noite caiu como um punhal e a dor me arrancou o sono e a paz, deixando meus pensamentos ensanguentados. Não pude distinguir se foi sonho ou pesadelo. Levantei-me como pude e desci até o breu de ruas que eu não conhecia.
A estranha cidade estava com um hálito soturno de gueto. As fábricas fumavam como michês da madrugada junto com as pessoas. O horizonte estava espetado por milhares de agulhas de fumaça e, a certa altura, tal qual uma miragem a vapor, a neblina arrastava os pés e alma como se tentasse em vão, soprar a nevasca.
As árvores se escondiam sob as calçadas escuras e os pássaros dormiam num ninho de ramos entrelaçados, embalados pelo vai e vem de uma angústia que se recusava a passar.
O ronco sonâmbulo de um carro atravessou a avenida como um dragão aterrorizado, indicando aos passageiros sem rosto que o sono também lhe era necessário.
Quis sumir dali, mas não sabia onde estava. Ignorando os sapatos, apoiei os braços debaixo da marquise de uma banca de jornal sentindo o coração apertar contra o peito.
Senti que as lembranças me seguiam com a solenidade de um cortejo. Vi-me deitada sob uma cama de espelhos, enquanto uma garganta invisível deslizava pelas armações metálicas e engolia os rostos aprisionados nas fotos de revistas que descansavam sombrias atrás das vidraças.
Fiquei com o olhar perdido naquele paraíso de sombras e notícias passadas.
Tive a sensação de que um vulto escuro pairava às minhas costas. Era a memória.
Pensei nos destinos descruzados e chorei quando as palavras congelaram em meus lábios. Era tanta solidão, que a ausência parecia vibrar em meus olhos.
Fechei-os.

Amanhecia no dia quatro de um de dezembro.
Meu aniversário.
Ele não veio.
Estava nevando no coração.
Soube então para quem eu havia escrito todas aquelas histórias: para mim mesma.





Beijos da Pétala sentindo como a Pipa