domingo, 17 de outubro de 2010

♥→ Amanheceu chovendo ausências.




Derramemo-nos, ainda que na tristeza. Amanheceu chovendo ausências. A água sobe como espuma entre as paredes descascadas. Ondulam os móveis, os quadros e as lâmpadas. Chega à altura do meu rosto. As águas são escuras e turvas, e estão infestadas de insetos e serpentes, cujos olhos científicos se avolumam num misto de exclusão e assistência, antes chegar às conclusões que anunciam. Retratos diluídos desancoram olhos transbordantes de carências. Eram seu rosto e seu sorriso que eu via. Quão lindos, sobre as águas, seus pés se alinham. Imersos num alicerce de safiras. Volta, quis dizer, os borbulhos da água, cobrindo-me o rosto e silenciando minhas lágrimas. Arracandas de uma rocha, águas que não passarão mais por esta rua. Seco os olhos úmidos de desesperança. Estão abertos, não se fecham. Aqui dentro tudo submerge. Menos as lembranças.




Pipa




















Nenhum comentário: